Os padres em psicoterapia
Quando vou a São Paulo para continuar com o processo de acompanhamento da pós-graduação que estou fazendo, costumo ir a livraria dar uma "bisbilhotada" nas novidades sobre o tema da espiritualidade e psicoterapia. Na verdade é que tem saído materiais excelentes sobre esse assunto, e bastante científicos por sinal. Na última vez, encontrei um livro do professor Ênio Brito Pinto, com o título: Os padres em psicoterapia. Não pensei duas vezes e comprei. Comecei a ler logo que cheguei em casa e me surpreendi com o conteúdo por trazer a experiência do autor como psicólogo de muitos religiosos e sacerdotes.
Eu gostei tanto e me interessei a tal ponto pelo livro que li praticamente em uma tarde.
Hoje é fundamental que todos aqueles que se dedicam ao cuidado das pessoas possam também passar pelo cuidado de si mesmos. O sacerdote acaba atendendo muitas pessoas, ouvindo histórias, acontecimentos, fatos inéditos... Os estudos têm mostrado que a síndrome do desgaste emocional, burnout, também se faz presente entre os membros do clero e da vida religiosa consagrada.
Em geral, podemos dizer que a pós-modernidade trouxe pra todos nós a cobrança de eficiência. E se há uma cobrança geral para todos, parece que os membros do clero estão em uma espécie de câmara de vigilância, muito parecida aquelas dos reality shows, que os vigia por onde vão, que roupa usam, o que compram, com quem falam, o que comem... O padre é uma figura pública e por estar em contato com altos ideais da vida cristã não lhe é permitido, ao menos parece, ficar triste, ter momentos de raiva...ou por outro lado, ser feliz ou estar de bem com a vida. A exigência de "perfeição" evangélica aparece por todos os lados. A pergunta é se queremos ser eficientes ou eficazes. O padre é humano, e como todo ser humano, as vezes, sofre de desgaste emocional e precisa "deitar no divã", ou pelo menos, buscar um amigo sacerdote que lhe escute.Se queremos ser eficazes no ministério é preciso cuidar de nós mesmos. Tem que rezar muito, mas também ter coragem de enfrentar os sentimentos, as limitações, os desafios...E como bem ensinamos aos nossos fiéis: as vezes é preciso buscar ajuda, não sofrer sozinho ou calado.
Aquela lógica das profissões de cuidado: "Cuidar também dos cuidadores", vale aqui também para nós padres ou religiosos: precisamos ser acompanhados para melhor acompanhar. E é notável que quando não trabalhamos nossas feridas, ferimos outros ao nosso redor. Quando nos curamos oferecemos bálsamo da cura a todos que entram em contato conosco.
Não sei se é mera questão de opinião tudo isso. Apenas posso dizer que fazer acompanhamento terapêutico há mais de um ano, tem me ajudado muito no meu ministério sacerdotal de acompanhar a outros em seu processo. Fazer terapia não é coisa de doido, nem de gente sem fé: mas de gente que quer ser mais humana. Também temos que dizer: a terapia não salva ninguém, só ajuda!
Comentários
Postar um comentário