Cortando o cordão umbilical psicológico
Rollo May, um dos maiores psicanalistas, mostra no seu clássico livro "O homem a procura de si mesmo" como o ser humano é capaz de buscar soluções para sua insegurança explorando a fonte de energias que se encontra dentro de si mesmo. O autoconhecimento traz liberdade e responsabilidade.
Vou deter-me nessa pequena reflexão e falar da importância de romper com o cordão umbilical psicológico. O ser humano ao nascer, quando é cortado o cordão umbilical que o une a mãe, se torna um ser humano fisicamente desvinculado a ela. Porém mesmo que se corte o cordão umbilical físico, segue de muitas maneiras atado ao cordão umbilical psicológico.
Enquanto a pessoa não romper com esse cordão umbilical psicológico será um dependente passivo, como uma criança insegura atada ao ambiente materno, não poderá ir longe, porque a corda o prende junto ao ambiente cálido do seio da mãe. Pessoas atadas são aquelas que não conseguem ir para frente, ficam presas e precisam estar continuamente "voltando para a mamãe". Rollo May diz que inclusive um homem casado chega a declarar em seu consultório que não pode amar bastante sua esposa porque ama demais a sua mãe. Na verdade esse homem não se deu conta de que o amor é justamente o contrário: expansividade. Amar é justamente cortar o cordão que nos amarra e sentir-nos livres para entregar-nos.
Existem muitas mães na nossa vida que nos dão "segurança": dinheiro, poder, instituições... mas a pergunta que podemos nos fazer é: onde se encontra nosso porto seguro? E a reposta não pode ser outra: dentro de nós!
Evidentemente todo esse processo de cortar o cordão umbilical psicológico não é fácil. Algumas pessoas vão se sentir bloqueadas no meio do caminho. Algumas pessoas em um primeiro momento vivem essa escravidão de sentir-se pequenina para que a mãe possa vir em socorro dela e ampará-la em seus medos, mas isso não traz liberdade, senão dominação. Alguns conseguem ter a coragem de cortar as amarras desse jogo e encontrar-se consigo em um estágio não mais de dependência, mas de autoconsciência.
Não significa que crescer leva a pessoa a cometer matricídio, mas sim, é preciso matar tudo aquilo que nos impede de sermos nós mesmos. Pode-se afirmar, que pelo fato de passar meses no ventre da mãe e sendo
totalmente dependente desta, a criança está mais ligada com ela do que com o
pai. A tentação a ser protegido, regredir, ser passivo ou embotado, são
simbolizados pela tendência a voltar ao seio materno. A maturidade e a
liberdade individual seriam justamente o oposto a essas tendências.
Entram
em jogo muitas coisas. Inclusive pode nos levar a perguntar qual a imagem de
Deus nós temos. Deus pode ser não só o desejo de integração, unificação, mas
uma necessidade de voltar a dependência infantil. Jesus vem ensinar justamente a
importância de separar, de sair de um círculo vicioso do narcisismo e amar ao
semelhante, desde um amor agápico.
Pode-se dizer com Rollo May então que “o processo de diferenciação, que é a peregrinação do ser humano pela
vida, exige que ele evolua para longe do incesto e em direção à capacidade de ‘amar
voltando para fora’”.
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